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domingo, 26 de junho de 2011

Monotonia

O poema abaixo, da fase pós-Ímpeto, foi escrito por volta de 1992, baseado num aforismo composto por meu amigo Caius: "O homem é um deus que não deu certo." Pensando nisso imaginei os seguintes versos sendo recitados por um jogral, em que  cada uma das filas repetisse o verso recitado pela anterior, criando assim um eco que realçasse a reiteratividade de cada uma das ações aqui apresentadas. Claro, a métrica obedece à concretude com que outrora tanto flertei:

                                                                         
                       Nasce chora      caga mija e dorme                                                       
                             Chora mama caga mija e dorme                                                                                
                             Chora mama caga mija e dorme
                             Chora come caga mija e dorme
                Brinca briga chora come e dorme
                Brinca briga chora come e dorme
         Estuda brinca briga come e dorme
Trabalha estuda come e dorme
Trabalha estuda come e dorme
Trabalha estuda come e dorme
Trabalha estuda namora come e dorme
Trabalha estuda namora come e dorme
Trabalha estuda noiva  come e dorme
Trabalha estuda noiva  come e dorme
Trabalha se forma      come e dorme
Trabalha casa come fode e dorme
     Trabalha come fode e dorme
     Trabalha come atura mulher e filho fode e dorme
     Trabalha come fode e dorme
     Trabalha come fode e dorme
     Trabalha come fode e dorme
     Trabalha come fode e dorme
     Trabalha come fode e dorme
     Trabalha come fode e dorme
     Se aposenta come fode e dorme                                  
                 Come fode e dorme
                 Come fode e dorme                                
                 Come fode e dorme   
                 Come fode a paciência alheia e dorme
                 Come e dorme
                 Come e dorme
                 Come e dorme  
                 Come e dorme
                 Come e dorme
                 Come e dorme
                 Come e dorme
                        Dorme
                    (De vez.)


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Queda prohibido

         Tengo un amigo que es más que un hermano, pero que a veces, por haber cometido el imperdonable delito de no haber aprendido a hablar español - tarea ineluctable de cualquier latinoamericano que algo valga - comite algunos equívocos. En su maravilloso blog ABC Imaginário (abcimaginario.blogspot.com) recién ha publicado una (mutilada) traducción en portugués de un poema titulado "Queda prohibido", añadiendo tratarse de um poema de nadie menos que Pablo Neruda, seudónimo de un cierto Ricardo Reyes, nombre cuya versión portuguesa designaba a uno de los heterónimos de Fernando Pessoa, con quien mi querido amigo tiene a la vez una asombrosa semejanza física... pero volvamos al punto.
        Leyendo dicho poema en el blog de mi amigo, luego me puse desconfiado de que dicho poema, por su temática,  jamás pudo haber sido compuesto por don Pablo. (No que el poeta cumbre de nuestras patrias no fuese capaz de hacerlo, pero los que conozcan mínimamente su obra sabrán que algo así le haría revoluciones en el hígado... o en el mismo estómago).
Investigando el hecho luego me di cuenta de que tal poema fue en verdad compuesto por el poeta Alfredo Cuervo Barrero, un joven poeta del norte de España. Entonces, como contrapunto al artículo de mi compañero, pero principalmente para hacerle a Neruda y a Cuervo Barrero las debidas justicias, he aquí el poema original: 



¿Qué es lo verdaderamente importante?,
busco en mi interior la respuesta,y me es tan difícil de encontrar.

Falsas ideas invaden mi mente,
acostumbrada a enmascarar lo que no entiende,aturdida en un mundo de irreales ilusiones,donde la vanidad, el miedo, la riqueza,la violencia, el odio, la indiferencia,se convierten en adorados héroes,¡no me extraña que exista tanta confusión,tanta lejanía de todo, tanta desilusión!.

Me preguntas cómo se puede ser feliz,
cómo entre tanta mentira puede uno convivir,cada cual es quien se tiene que responder,aunque para mí, aquí, ahora y para siempre:

Queda prohibido llorar sin aprender,
levantarme un día sin saber qué hacer,tener miedo a mis recuerdos,sentirme sólo alguna vez.

Queda prohibido no sonreír a los problemas,
no luchar por lo que quiero,abandonarlo todo por tener miedo,no convertir en realidad mis sueños.

Queda prohibido no demostrarte mi amor,
hacer que pagues mis dudas y mi mal humor,inventarme cosas que nunca ocurrieron,recordarte sólo cuando no te tengo.

Queda prohibido dejar a mis amigos,
no intentar comprender lo que vivimos,llamarles sólo cuando los necesito,no ver que también nosotros somos distintos.

Queda prohibido no ser yo ante la gente,
fingir ante las personas que no me importan,hacerme el gracioso con tal de que me recuerden,olvidar a todos aquellos que me quieren.

Queda prohibido no hacer las cosas por mí mismo,
no creer en mi dios y hallar mi destino,tener miedo a la vida y a sus castigos,no vivir cada día como si fuera un último suspiro.

Queda prohibido echarte de menos sin alegrarme,
odiar los momentos que me hicieron quererte,todo porque nuestros caminos han dejado de abrazarse,olvidar nuestro pasado y pagarlo con nuestro presente.

Queda prohibido no intentar comprender a las personas,
pensar que sus vidas valen más que la mía,no saber que cada uno tiene su camino y su dicha,sentir que con su falta el mundo se termina.

Queda prohibido no crear mi historia,
dejar de dar las gracias a mi familia por mi vida,no tener un momento para la gente que me necesita,no comprender que lo que la vida nos da, también nos lo quita.


sábado, 18 de junho de 2011

A foto nossa de cada dia - Bicicletário de Triagem

Foto feita com o celular - Foto hecha con el móbil 
Foto farita pere de la ĉelfono.


        No meu trajeto das segundas-feiras costumo ir de um trabalho a outro usando os trens do ramal da Leopoldina e o Metrô, fazendo baldeação na estação de Triagem. Esta estação, é bom que se diga, é uma das maiores de todo o Metrô do Rio de Janeiro, chegando a superar em tamanho a estação terminal da Pavuna.
 Surpreendentemente,uma estação em que se integram dois meios de transporte não-poluentes e que dispõe de uma área livre enorme, apresenta aos usuários um bicicletário ridículo de tão ínfimo, que dadas as condições de acomodação das bicicletas, lembra o açouque aqui perto de casa. Já não basta o processo de super-lotação do metrô e o completo descaso com os usuários da Linha 2, será que esses "gênios" da engenharia de tráfego não podiam oferecer bicicletários decentes, incentivando assim o uso da bicicleta como alternativa real aos carros?
        En mi trayecto de los lunes suelo ir de un trabajo a otro usando los trenes de Leopoldina y también el Metro, baldeándome en la estación de Triagem. Ésta, es bueno que se lo diga, es una de las más grandes  de todo el Metro do Río de Janeiro, superando en tamaño a la estación terminal de Pavuna. Sorprendentemente, una estación en que se integran dos medios de transporte no-poluidores y que dispone de una área libre enorme, presenta a sus usuarios un bicicletario ínfimamente ridículo, que, según las  condiciones de acomodación de las bicicletas, recuerda la carnicería cerca de mi casa. ¿Ya no basta todo el  proceso de superlotación del metro y el completo descuido con los usuarios de la Línea 2, será que ésos "genios" de la ingeniería de tráfico no podían ofrecer bicicletarios decentes, incentivando con eso el  uso de la bicicleta como alternativa real a los coches?
        Tra mia lunda deirado mi kutimas trairi de unu laborloko al alia pere de la trajnoj de Leopoldina kaj  metroo, ŝanĝante la mediojn en la stacidomo de Triagem. Tia stacidomo, bonas diri, estas unu el la plej grandaj de la tuta metroo de Rio-de-Ĵanejro, superigante, por siaj dimensioj, eĉ la fina stacidomo de Pavuna. Surprizige, stacidomo kie integriĝas du nepoluantajn transportmediojn, kaj disponanta de grandegan liberareon, prezentas al siaj uzantoj nur ridindan, etetan biciklejon, kie, laŭ la gardkondiĉoj de la bicikloj mem, memoras min pri la buĉejo ĉirkaŭ mia domo. Ĉu ne jam sufiĉas la troŝarĝiga metroa procezo kaj la nenia zorgo pri la uzantoj de la  2a vojo?, ĉu tiuj "genioj" de tra-fika inĝenierado ja ne povus almenaŭ oferi decajn biciklejojn, tiamaniere valorigante l'uzon de l' biciklo kiel vera alternativo al l'aŭtomobiloj?

A Festa da Igreja

   Gente boa que me lê, como no próximo sábado, 13 de junho, será o dia de Santo Antônio e muita gente vai fazer simpatia pra casar logo, resolvi postar hoje sobre a mais sólida tradição do Parque Colúmbia, e que, para muita gente, é a única coisa que realmente funciona no bairro: a festa junina da Igreja Católica.
   Conhecida simplesmente como “festa da igreja”, esse tradicional evento columbiano ocorre tradicionalmente no mês de junho – se não, não seria junina, pô! – a festa é das mais tradicionais: barraquinhas típicas, quadrilhas dançando, meninas levando os rapazes presos e, é claro, muita azaração. A festa deve ter começado ainda na década de 60, afinal a Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro começou a ser construída justo em 1960, com a chegada do Pe. Eugênio, mas o certo é que a festa ocorreu sempre no mesmo lugar, na rua General Etchegoyen, em frente à paróquia. 
   Durante a festa sempre se apresentam diversas quadrilhas, locais e convidadas, mas a mais conhecida, tradicional e aguardada é a “Quadrilha dos Coroas”, formada apenas por quem já passou dos 50. Existindo desde fins dos anos 70 – até onde eu consigo me lembrar – é claro que a maioria dos coroas originais já estão celebrando as festas de Santo Antônio, São João e São Pedro na companhia dos próprios, mas como a velhice é um lugar para onde todos estamos indo, não faltará gente para repor os quadros associativos da quadrilha. 
    Ao longo de todos esses anos, a festa sempre teve anos mais movimentados e outros bem apagadinhos, teve até um ano em que foi feita dentro da própria igreja, em razão da violência no bairro. Mas há alguns lances que têm de ser lembrados. Houve uma vez, ainda nos anos 80, que uma equipe de som foi chamada para animar a festa. É óbvio que, lá pelas tantas, a festa junina já tinha virado um baile, cheio de “balanço” – como então era chamada o funk - quando o animador, um cara chato pra cacete, viu o Diógenes dançando lá embaixo e anunciou: “Daqui a pouco, com vocês, o dançarino maluco!!!” e tanto insistiu que levou o Dio pra dançar no palco. Entrevistando aquele que, hoje, é dono da melhor e única pastelaria do bairro, o Dio contou um monte de piadas e, imitando o Sílvio Santos, começou a deixar o “animador” da festa semgração. Daí, ele botou um monte de músicas pro Dio ficar dançando no palco, sendo aplaudido e zoado pela galera lá embaixo.
   Outro lance engraçadíssimo acontecera uns anos antes: o Pe. Eugênio ganhara, de presente para a paróquia, um rechonchudo leitãozinho. Bonitinho, rosinha, até parecia com o “Babe”, do filme “O porquinho atrapalhado”. Bom, igreja não é lugar de porco, e, como nosso bom pároco sabia disso, resolveu fazer um sorteio de brindes durante a festa, oferecendo como prêmio o dito bichinho. Até aí, tranquilo, só que porco não é animal de estimação e, na hora h, a ganhadora do bicho declarou em alto e bom som: “Olha seu padre, eu queria doar o porco pra paróquia, porque, o senhor sabe, a minha casa é pequena... Por quê o senhor não sorteia de novo?” e lá foi nosso sacerdote realizar um novo sorteio, só que, dessa vez, o ganhador não apareceu – eu vi o sujeito escondendo o número sorteado no bolso e saindo de fininho. Novo sorteio, e nada. Mais um, e outro, e o padre já estava exasperado com isso e, enfim o porco saiu pro Seu Zé, morador antigo, que criava porcos num sítio em Magé e que ficou muito feliz com o aumento repentino de sua vara (Calma, galera! “Vara”, é bom lembrar, é o coletivo de porcos, ok?) Eu ainda ouvi o padre comentar com o seu Gilson Mello, de saudosa memória, que “O porquinho bem podia ter saído pra alguém que soubesse fazer um leitão à pururuca”. Espero encontrar vocês todos lá, para que no ano que vem eu poste alguma coisa nova sobre a festa.

Ímpeto - O escultor de flores.

Como se esculpisse flores
procuro os termos exatos
que reproduzam odores
pros teus lábios indecifrados.


Busco falar dos meus antigos amores
com a cautela de quem joga dados,
tento amenizar as cores
nítidas e ardentes do passado.


Mas queimam o meu corpo calores
pelas lembranças reavivados,
e logo me esqueço das dores


que me deixaram desgraçado,
e por outra esqueço teus favores,
e por outra te ponho de lado.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Rua do Latão


Uma das ruas mais conhecidas do bairro é a Rua do Latão. Embora pouca gente saiba que seu nome real é Rua Sussekind de Mendonça, esta rua ficou bastante conhecida desde os primórdios de nossa história por motivos diversos.
Como já contei aqui, era no cruzamento desta rua com a Rua Embaú que ficava localizado o “Despachódromo”. Mas a rua do Latão, que começa nesse ponto e corre em paralelo com a Rodovia Presidente Dutra, tem, nas suas duas calçadas, apenas fábricas, depósitos, transportadoras; enfim, empresas que, durante o dia, apresentam movimento apenas nos horários de entrada, almoço e saída de funcionários, ficando, durante o resto do tempo, praticamente abandonada e deserta.
Ora, lugares assim são excelentes “points” para quem deseja namorar sem correr o risco de ser visto por vizinhos fofoqueiros, parentes chatos ou gente pronta a “segurar vela” – será que ainda há quem faça isso?, ou estou apenas entregando a minha idade?
Numa época em que um bom namoro incluía que, pela garota, o cara sempre dissesse: “Por você, meu amor, mato ou morro!” acontecia entre os anos 70 e fins dos 90, a rua do Latão fosse frequentada pelos mais diversos casais, que, aproveitando-se da tranquilidade total existente após as 18:00 hs – quando as fábricas já estavam fechadas, lá iam atrás de refúgio, sombra, isolamento e tranquilidade para trocarem juras de paixão imorredoura, amor eterno, beijos e amassos, afinal, paixão sempre rimou com tesão.
Nesse aspecto, a rua fornecia excelente logística, já que, apesar de bem iluminada, possuía muitas árvores copadas e frondosas, além dos vãos entre os muros e os portões de entrada das empresas. Tais árvores e muros forneciam bons lugares para que belos casais se formassem em injunção carnal – se é que o leitor me entende. Havia até algumas árvores cujos troncos entortaram, devido à “pressão” que sobre eles era exercida.
Vale lembrar que, até fins dos anos 80, a expressão “violência urbana” era desconhecida no bairro, podendo ditos casais ficarem à total vontade para buscarem as bênçãos de Cupido. Com isso, a fama da rua ficou tão grande que a mesma logo tornou-se extremamente movimentada, chegando a haver quem reclamasse de não ter conseguido vaga numa de suas árvores ou de que todos espaços possíveis já haviam sido tomados quando lá chegaram.
Houve uma história que muito ajudou à divulgação da rua como espaço amoroso privilegiado: um jovem mancebo, lá chegando em bela companhia, divisou, bem acompanhada, a silhueta de sua namorada “oficial”, logo aquela pura jovem a quem ele pedira ao pai para namorar em casa. Claro, houve briga, bate-boca, alguns xingamentos, mas no final deu tudo certo, pois, como se diz por aí: “Chifre trocado não dói.” (Os dois estão ainda bem-casados e, quem sabe, seus dois filhos não estejam me lendo nessa hora...)
Outra história legal foi quando uma das mais lindas – e gostosas – garotas do Parque Colúmbia foi surpreendida “amamentando” sua melhor amiga. Foi uma verdadeira comoção entre a galera que, decepcionada com o lesbianismo implícito da jovem, tratou logo de excluí-la totalmente do nosso convívio. Mas parece que a aventura foi apenas uma experiência, e a gostosa logo viu que desejava algo maior para sua vida e procurou um amigo nosso, cujo apelido era “Ben... Ben Gala”, para que preenchesse seu vazio interior. Quanto a sua amiga, esta até hoje não se consola por ter perdido sua vaca leiteira e vive se lamentando por aí...
Tenho absoluta certeza de que muitos columbianos, hoje na faixa dos 20 aos 35 anos, são verdadeiramente “made in Rua do Latão”, mas hoje em dia, com o aumento da violência local, com o turno noturno de algumas empresas e com o barateamento do preço dos moteis da Pres. Dutra, muitos dos jovens casais que poderiam estar perpetuando uma saudável tradição de namoro “sob as estrelas” estão se divertindo em outras paragens. Afinal, já não existe mais a tradição do “mato ou morro” que mencionei acima, e esses dois lugares tradicionais para a reprodução da espécie têm ficado meio abandonados por nós, sedentários e civilizados. Até a próxima!

Ímpeto - Soneto sem título


Na amplidão do vácuo me projeto,
O cortante frio vento me assola,
No coração vazio introspecto
O medo total que me desola.

Vejo-me desnudo e oco objeto,
Mendigo a pedir esmola,
Valendo a alma menos que um objeto
Despaixão p’la alma que a alma viola.

Privando-me de todo o teto
Saio da penumbra que isola
Isolando também do afeto

Com o silêncio que a alma esfola
Reuno forças mas nem assim veto
Tua presença que não me consola.